1940
Por Gabriel de Barros Amstalden
Década de 1940
A relação entre a Igreja Católica e a educação remonta à época medieval com a fundação das primeiras escolas dentro de mosteiros e, posteriormente, das faculdades e universidades, algumas das quais existentes até hoje, a exemplo da Universidade de Bolonha, na Itália.
Ao longo dos séculos essa relação se sedimentou e diversas outras instituições foram criadas e incorporadas ao seio da Igreja, buscando o crescimento e o conhecimento humano.
Uma dessas instituições é a Pontifícia Universidade Católica de Campinas, que começou a traçar o seu caminho 80 anos atrás. Ela surgiu, sobretudo, a partir dos ideais de dois religiosos, Mons. Emílio José Salim e Dom Francisco de Campos Barreto, que sentiam a necessidade de implantar o ensino superior em Campinas, tendo em vista a proeminência que a cidade vinha conquistando. Nascia assim a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que, posteriormente, com o acréscimo de novos cursos, tornou-se as Faculdades Campineiras, semente do que viria a ser PUC-Campinas que conhecemos hoje.
Os primeiros cursos foram Ciências Sociais, Filosofia, Geografia, História, Letras, Matemática, Pedagogia e Ciências Econômicas. Estes visavam, sobretudo, à formação de profissionais capacitados para o desenvolvimento econômico e social da cidade, através da educação básica, por conta disso, os professores formados nas primeiras turmas da Faculdade exerceram papel fundamental nesse desenvolvimento.
A relação entre a Igreja e a Universidade sempre foi muito forte, uma vez que a Universidade nasceu do coração da Igreja de Campinas e, através das imagens representativas da primeira década, é possível observar essa próxima relação no dia a dia e nos acontecimentos marcantes das primeiras turmas.
Fotos com integrantes do clero em diferentes momentos do ano letivo e uma foto de formatura com toda a turma do curso de Filosofia, em frente à Catedral Metropolitana de Campinas, com a presença do então bispo de Campinas Dom Paulo de Tarso Campos, exemplificam essa relação.
O hoje histórico e até lendário “Solar do Barão de Itapura” se revela ainda mais imponente nas fotos ao nos apresentar os seus traços originais, ainda com a existência do jardim em frente à casa, no Pátio dos Leões, como ficou apelidado, onde eram realizadas festas e solenidades da Faculdade. A construção foi feita para servir de moradia a Joaquim Policarpo Aranha, o Barão de Itapura, passando o imóvel, durante a década de 1930, a ser utilizado pela então Diocese de Campinas, até que, em 1941, é transferido para a Sociedade Campineira de Educação e Instrução (SCEI), mantenedora da Universidade. Em entrevista ao jornal “A Tribuna”, em 1941, Monsenhor Salim fala sobre essa escolha:
Evidenciada a realidade desse importante melhoramento para Campinas, cumpre notar que o prédio escolhido para o funcionamento não podia ser melhor, pois é o sobrado ora ocupado pelas Missionárias de Jesus Crucificado, à Rua Marechal Deodoro. Mais uma vez se fez sentir o coração todo nobre da benquista dama dona Isolete Aranha. Uma vez terminado o prédio próprio das abnegadas Missionárias, que está se erguendo à Avenida da Saudade; o tradicional solar acima será adaptado de conformidade com as exigências que convém a um estabelecimento de ensino superior (A Tribuna, 1941).
Com o passar dos anos e com o crescimento da Universidade, tanto em prestígio, quanto em qualidade de ensino e oferta de novos cursos, fez-se necessária a mudança para espaços mais adequados ao ensino. Através das imagens, podemos notar que, apesar da imponência do solar, de seu tamanho, mesmo levando em conta os anexos que foram sendo construídos, o espaço realmente era limitado para o ensino superior, e hoje ele representa para nós um retorno ao passado, às memórias do início de um projeto ambicioso de educação que caminha para um projeto de futuro envolvendo cultura e memória.
1950
Por Lucas Diego Ganzella da Silva
No início da década de 1950 a então Diocese de Campinas, que só receberia o status de Arquidiocese em 18 de abril de 1958, adquire oficialmente o Solar do Barão de Itapura, que estava sendo por ela alugado desde 1937. O Aluguel do edifício tinha sido primeiramente para abrigar as Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado e depois para instalar a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em 1941, o ponto de partida do que viria a ser a Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
Existem duas versões que circulam sobre a aquisição do imóvel em 1951. A primeira seria a de que o palacete de Joaquim Policarpo Aranha, o Barão de Itapura, teria sido doado por sua filha Izolete Augusta de Sousa Aranha. A segunda relata que, na verdade, ela teria vendido para a Diocese por um valor simbólico.
Embora existam divergências nas versões que circulam, o fato é que, no dia 12 de abril de 1951, Izolete Aranha registrou em cartório os termos da transferência do imóvel para a Diocese de Campinas. A conclusão da determinação apropriada sobre a natureza dessa transferência, seja como doação, seja como venda simbólica, precisaria de uma análise jurídica dos termos do documento, a partir das leis vigentes até aquele momento. O documento expõe condições que tiveram um caráter financeiro e religioso com que a Diocese deveria arcar para adquirir a propriedade, ilustrando traços importantes do pensar e sentir daquela sociedade:
O imóvel está locado a Sociedade Campineira de Educação e Instrução que fez e continua fazendo construções no imóvel, tendo sido o mesmo entregue a adquirente, mediante o pagamento de uma renda vitalícia mensal de 10 mil cruzeiros- com a condição de, a adquirente após o falecimento dela transmitente, empregar, quando entender, de Cr$ 1.2000.000,00 ou a que produze o imóvel, se alienado for, na construção de um templo-votivo, do Santíssimo Sacramento, nesta cidade, no qual será destinado um altar à N.S. Aparecida, Padroeira do Brasil, colocando-se a imagem como uma côroa de ouro que ela transmitente doou a adquirente e sobre o altar celebrando-se aos sábados, missa em sufrágio da alma dela transmitente durante um ano327. (CAMPINAS, 1951, p. 01-02).
Os anos 50 foram um período muito frutífero que preparou os alicerces institucionais para a evolução das Faculdades Campineiras. Em 15 de agosto de 1955, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras se transforma em Universidade de Campinas, contando já com 1.520 alunos matriculados, representando 2,09% do total de alunos matriculados em cursos de nível superior no Brasil.
Além do reconhecimento do Conservatório de Canto Orfeônico, em junho de 1950, a Faculdade de Odontologia seria reconhecida pelo governo estadual no dia 26 de novembro de 1952. A Faculdade de Direito seria criada em 16 de abril de 1951 e, em 1955, duas faculdades independentes foram incorporadas pela Universidade: a Faculdade de Serviço Social, fundada em 1949 pelo Instituto das Missionárias de Jesus Crucificado e a Escola de Enfermeiras Madre Maria Teodora, inicialmente conduzida pela Congregação das Irmãs de São José de Chamber.
Em 12 de julho de 1957, a nascente Universidade consegue a aprovação dos seus estatutos e regimentos, também de sua mantenedora – a Sociedade Campineira de Educação e Instrução (SCEI) – pela Sagrada Congregação dos Seminários e Universidades de Estudos, um organismo do Vaticano. A partir dessa aprovação a Universidade de Campinas passaria a se chamar Universidade Católica de Campinas.
Em 1958, é inaugurado, pelo então reitor da Universidade, Monsenhor Emílio José Salim, o Departamento de Antropologia e Etnologia, que em alguns anos mais tarde alcançaria o status de museu. O primeiro coordenador do departamento foi o Prof. Alfonso Trujillo Ferrari, então titular das disciplinas de Antropologia, Etnografia Geral e Etnografia do Brasil, discípulo do antropólogo Herbert Baldus na Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
O Departamento de Antropologia e Etnologia organizou uma expedição ao planalto mato-grossense que ocorreu no período de 25 de julho a 6 de agosto de 1958. A expedição foi custeada pela Universidade em conjunto com os expedicionários, tendo como finalidade a pesquisa etnológica, geográfica, histórica e sociológica. Também estava no horizonte da expedição a aquisição de materiais etnológicos para a formação do acervo do departamento.
Esta expedição deu o pontapé inicial para a construção de um rico acervo etnológico, arqueológico e de cultura popular resguardado pelo Museu Universitário da PUC-Campinas, mostrando que, desde seus primeiros anos, a Universidade desempenha um grande papel na preservação histórica, na pesquisa e no avanço científico, fazendo jus ao seu lema Fide Splendet Et Scientia (Fé, Excelência e Ciência).
1960
Por Mayla Liberato Demanboro
Os fatos históricos que destacam a década de 1960 da nossa Universidade, dão início pela Fundação do Colégio de Aplicação Pio XII, inaugurado no início da década, quando surgiu como Escola de Aplicação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, iniciativa do então Reitor da Universidade Católica, Monsenhor Emílio José Salim. A instituição particular de ensino ligada à Pontifícia Universidade Católica de Campinas, tem como registro do seu histórico arquitetônico as salas anexas ao casarão da Rua Marechal Deodoro, no Prédio Central da PUC-Campinas, com salas de 3ª série do Ensino Médio (antigo 3º ano do 2º grau) e outra com o 6º ano do Fundamental (antiga 5ª série do Ginásio), sendo essa a primeira sede do Colégio. Na sequência, mudou-se para o Instituto de Letras da PUC, à Rua Barreto Leme, onde ficou até metade de 1965. Posteriormente, seguiu para a Rua Boaventura do Amaral, 354, local que sediava o antigo Colégio Arquidiocesano Santa Maria, onde permanece até os dias de hoje.
O ano de 1968 foi marcado pelo falecimento do Reitor Monsenhor Dr. José Salim, que teve suas atividades educacionais firmadas como Diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Campinas (1941 a 1955), Vice-Reitor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1946 a 1955) e Reitor da Universidade Católica de Campinas (1956 a 1968), tornando-se um registro de espírito humanista e dedicação intensa às atividades de ensino e cultura em Campinas e região. Assumiu seu lugar o Prof. Benedito José Barreto Fonseca, seu Vice-Reitor, que, já no ano de 1969, conquista a autorização para o funcionamento dos cursos de Biologia, Educação Física, Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas.
Nesse mesmo ano, Dom Paulo de Tarso Campos, terceiro Bispo e primeiro Arcebispo Metropolitano de Campinas, passou a comandar a Arquidiocese junto ao coadjutor Antônio Maria Alves de Siqueira; este, posteriormente, confiou todo o trabalho pastoral e administrativo a Dom Gilberto Pereira Lopes, para proporcionar uma presença mais assídua nas tarefas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
1970
Por Alessandra da Silva Gonçalves
Após um longo período de grandes revoluções e transformações nas Leis de Diretrizes do Sistema Educacional Brasileiro, em que as universidades finalmente são definidas como instituição de ensino e pesquisa, a década de 1970 vem marcar a história da PUC-Campinas, pois o sonho dá espaço a uma nova realidade promissora, em que há acentuado crescimento da Instituição, sendo assim reconhecida como destaque no cenário acadêmico brasileiro.
Com a reforma universitária conquistada no final da década de 1960, o país inicia um processo de massificação do ensino superior, possibilitando assim, a abertura de centenas de Cursos, Programas e de Faculdades em instituições privadas por todo o país, tendo um aumento significativo no número de alunos. Para atender a essa demanda, no início da década de 1970, a Universidade, partindo desse contexto, tornou possível o sonho da construção de um novo campus, suficientemente amplo e adequado para atender às dimensões e à dinâmica de modernização e melhoramento ininterrupto da Universidade.
Em 1972, sob a administração do reitor Benedito José Barreto Fonseca, a Universidade Católica de Campinas obtém do Papa Paulo VI o reconhecimento como Universidade Pontifícia, passando a denominar-se Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
Nesse sentido, a partir da década de 1970, a Universidade experimenta um dos maiores crescimentos de sua história, sendo a década de criação de novos cursos: Fonoaudiologia, em 1970. Educação Artística, Artes Plásticas, Desenho, Engenharia Civil, Formação de Professores para Educação Especial e Ciências Contábeis, em 1971. Fisioterapia e Análise de Sistemas, em 1972. Turismo e Arquitetura e Urbanismo, em 1973. Terapia ocupacional, em 1974. Medicina, Nutrição e Ciências Farmacêuticas, em 1975. Engenharia Sanitária, em 1977 e, por fim, Teologia, em 1978. Ao mesmo tempo, a Universidade se sentiu suficientemente madura para introduzir seu primeiro Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu, sendo o primeiro curso implantado o de Mestrado em Psicologia Clínica. Depois vieram outros, como os Mestrados em Linguística, Filosofia e Biblioteconomia.
Entre 1972 e 1974, são erguidos os primeiros pavilhões no Campus I, até hoje o maior dos três que compõem atualmente a PUC-Campinas, inaugurado em 15 de março de 1973. Contendo laboratórios, salas de aula, dependências administrativas e de apoio, mais o complexo de Educação Física, incluindo quadras, piscinas e áreas para a prática esportiva, é uma grande estrutura capaz de atender com excelência a demanda de todos os novos cursos implantados a cada ano.
Em 1977, a PUC-Campinas amplia e consolida a oferta de Cursos na área médica, incluindo Medicina. A Universidade recebe uma doação de um prédio inacabado que viria a ser o Hospital Celso Pierro, em 1978. Em um terreno em anexo ao Hospital, são construídos mais três edifícios que atualmente integram o Campus II. A implantação do campus marca nova fase da história da Universidade. Foram ali reunidos os cincos cursos da área de saúde – Medicina, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Enfermagem e Biologia, alguns já existentes, outros recém-implantados. Da área biomédica só permaneceu no Campus I o curso de Educação Física.
Essa década constitui, sem dúvidas, o período universitário que deixou inúmeras características marcantes para a história da Universidade. E até hoje, continua alimentando os sentimentos saudosos do relacionamento próprio da comunidade acadêmica e de todos que já tiveram a oportunidade de contribuir, de alguma maneira, para esse crescimento, dedicando seus saberes e conhecimento para dar continuidade aos novos sonhos que virão.
1980
Por Lucas Diego Ganzella da Silva
A Pontifícia Universidade Católica de Campinas havia passado na década de 1970 por um período de grande expansão e realização de sonhos. O número de cursos de graduação foi duplicado, os primeiros programas de pós-graduação stricto sensu haviam sido criados, também foi o início da construção do Campus I, na região da Santa Cândida, e do Campus II, junto ao Hospital e Maternidade Celso Pierro, no Jardim Ipaussurama. Esse salto de crescimento convergia na realidade econômica do país, que viveu, no início da década, o chamado “milagre econômico”.
Da mesma forma que o milagre econômico brasileiro teve seu preço após os eventos das duas crises do petróleo de 1973 e 1979, que causaram um desarranjo na economia mundial, a Universidade também sentiu o peso de sua grande expansão, levando ao enfrentamento de uma intensa crise que levaria duas décadas para ser superada.
A década de 1980, conhecida como a “década perdida”, devido à estagnação do Produto Interno Bruto (PIB) no país e às taxas de inflação sem precedentes em sua história, também foi um período desafiador e agitado para a Instituição, com intensas reformas e planejamentos, buscando fugir do colapso financeiro.
A conjuntura da crise era formada pelo alto custo das obras que estavam sendo realizadas no Campus II, pelas dívidas herdadas que vieram com a aquisição do Hospital e Maternidade Celso Pierro, seus equipamentos e manutenções. Desde 1973, o hospital estava sendo construído pelo médico Celso Pierro, mas as obras foram interrompidas com seu falecimento em 1977, sendo doado para a Universidade com a condição de dar o nome do falecido ao hospital e de assumir as dívidas vinculadas à propriedade.
A crise também era formada pelo cenário efervescente de greves de alunos, professores e demais colaboradores da Instituição, o que não deixava de ser um reflexo da inquietação que a sociedade brasileira sentia naquele momento. Essa inquietação era a vontade de se combater o establishment, que, no ambiente universitário, acabaria se personificando nas figuras dos reitores. Nesse sentido, é importante também destacar o papel protagonizado pelos alunos nos protestos pelas “Diretas Já”, concentrando-se no Pátio dos Leões do antigo Campus Central e tomando conta da Avenida Francisco Glicério.
Tendo em vista a contenção da crise, o então Grão-Chanceler Dom Gilberto Pereira Lopes, Arcebispo-Coadjutor de Campinas à época, nomeia, no dia 9 de junho de 1980, o advogado Heitor Regina como Reitor, formado na primeira turma da Faculdade de Direito em 1956. As primeiras ações de sua administração foram identificar os fatores e dimensões reais da crise e buscar por negociação com toda a comunidade universitária, objetivando a retomada das atividades acadêmicas, que enfrentavam paralisações por greves.
Foi o início de uma fase de austeridade e planejamento para a superação do endividamento. Foram feitas grandes reformas administrativas, orçamentárias e acadêmicas em todas as áreas da Universidade e alguns imóveis com menor importância também foram vendidos. A arquitetura das obras desse período reproduz todas as mudanças que foram empregues, em oposição ao estilo um tanto mais refinado da década de anterior, adotando uma forma mais sóbria.
Houve uma maior representatividade dos colaboradores e um aumento da participação dos alunos no Conselho Universitário. O Vice-Reitor para Assunto Acadêmicos, o engenheiro Eduardo José Pereira Coelho, leva à frente a elaboração de um projeto pedagógico, propondo uma reorganização estrutural, mediante políticas de ensino, pesquisa e extensão bem definidas.
A reforma universitária de 1968 imposta pela ditadura civil-militar tinha possibilitado uma expansão quantitativa, mas como compensação houve uma deterioração na qualidade do ensino. O projeto pedagógico vinha para lidar com o esgotamento dessa política.
O mandato do Reitor Heitor Regina terminaria em 1985. Em seu lugar assume o cargo Eduardo Coelho, no dia 1o de fevereiro desse ano, tendo sido o mais votado pela comunidade universitária. As políticas reformadoras da gestão anterior, de que Coelho também fazia parte, foram continuadas. Em 1988, o então Reitor Eduardo Coelho seria eleito presidente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), um acontecimento totalmente inédito na história da PUC-Campinas.
Apesar da década de 1980 ter sido um período de muitas dificuldades na história da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e do Brasil, como um todo, foram feitos planejamentos e reformas fundamentais que salvaguardaram o futuro da Universidade. Com isso, pôde prosseguir em sua missão de produzir, sistematizar e socializar o conhecimento, conferindo uma capacitação profissional com valores humanísticos enraizados na ética cristã.
1990
Por Vinícios Leite de Campos
O início da década de 1990 é marcado por um cenário mundial pós-Guerra Fria, caracterizada sobretudo, pela histórica e simbólica queda do muro de Berlim, pela formação oficial do bloco econômico Europeu (União Europeia, sigla UE) em 1992, pelo início da popularização de computadores e da Internet pelo mundo. Nesse período, vimos também a pactuação da comunidade política internacional, reunida na ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, discutindo a degradação do meio ambiente e construindo o conceito de desenvolvimento sustentável, o que produziu no final da mesma década, o Protocolo de Kyoto, um documento em que os países participantes assumiam a responsabilidade de reduzir gases poluentes do efeito estufa.
É nesse contexto, com tantos acontecimentos importantes no mundo, que a PUC-Campinas completava em 1991, 50 anos de sua fundação, sob a gestão do Reitor Professor Eduardo José Pereira Coelho, que estava à frente do cargo desde 1985. Com respeito aos valores e compromissos como instituição católica e comunitária, nesse mesmo ano, houve a criação do Centro Interdisciplinar de Atenção ao Deficiente (CIAD) PUC-Campinas.
O cenário nacional conturbado pela crise econômica e política, presente no início da década, não impediu que a Universidade executasse durante o período algumas obras importantes, entre elas as dos prédios da Faculdade de Serviço Social, do Instituto de Ciências Exatas, da Faculdade de Educação Física, visando à sua ampliação, do H-11, no Prédio Administrativo 2, no Campus I, e no Hospital Celso Pierro. Este último expandiu sua capacidade, com 30 mil atendimentos nos ambulatórios e mil internações por mês, além de realizar transplantes renais. Tudo isso foi possível, mediante o saneamento financeiro feito nos anos anterior e, portanto, mesmo diante dos problemas econômicos e políticos enfrentados em nível nacional, a vida na comunidade universitária não parou.
Durante essa década, para atender às necessidades das áreas de pesquisa e extensão da Universidade, criam-se dois núcleos de extensão — o de saúde e o de educação — a Coordenadoria de Estudos e Apoio à Pesquisa, além de se iniciar a implantação da carreira docente, com regime de dedicação à pesquisa e à extensão, e do programa de apoio à capacitação e titulação docente, tendo, para tanto, a colaboração de Paulo Freire e Maria Nilde Mascelani, ambos educadores de reconhecimento internacional, que deram suas contribuições para a Instituição.
Após oito anos da administração do Prof. Eduardo José Pereira Coelho como Reitor da Instituição, o Prof. Gilberto Luiz de Moraes Selber assume o cargo na Reitoria, no dia 1º de fevereiro de 1993, após experiências acumuladas no Instituto de Ciências Exatas e também como Vice-Reitor para Assuntos Administrativos.
Nesse momento, o contexto brasileiro, que era o da implantação do Plano Real em 1994, com o objetivo de encerrar os anos de alta inflação, instabilidade econômica e política, permitiu mudanças nas estruturas sociais do país. Acompanhando as mudanças profundas das diversas áreas da sociedade, a PUC-Campinas, com a recém administração do Reitor Prof. Eduardo José Pereira Coelho, criou o curso de Doutorado em Psicologia, em 1995, e desenvolveu através da Faculdade de Serviço Social um projeto de extensão pioneiro no país, conhecido como a Universidade da Terceira Idade, atualmente reproduzido em outras instituições de ensino superior de todo o país.
A gestão do Reitor Selber obteve conquistas importantes para a Instituição, como a capacitação docente com horas/atividade, aumentando a demanda de professores pela titulação acadêmica; e a adoção de um processo permanente de avaliação com a participação de alunos, professores e funcionários para construir um diagnóstico da situação da Universidade como um todo, colocando metas de médios e longos prazos construídas em equilíbrio com a relação entre receita e despesa.
Como reconhecimento, a Universidade alcançou a marca de 100 mil profissionais formados em 1995, que atuam por todo o Brasil, em diferentes setores da sociedade. Mesmo diante dessa marca importante, a administração do Reitor Selber, mostrava a preocupação em dar continuidade à implementação do Projeto Pedagógico executada desde a administração anterior, e, portanto, foram adotadas ações prioritárias como os investimentos no ensino de pós-graduação e o fomento à pesquisa, com a criação do Setor de Convênios, que possibilitou a geração de recursos aplicados nas áreas de ensino e na pesquisa.
Em 1997, o professor e padre José Benedito de Almeida David assume o cargo de Reitor da PUC-Campinas, diante das novas exigências da Lei de Diretrizes e Bases, aprovada pelo Congresso em 1996, e também da necessidade de melhorar a infraestrutura após duas décadas de contenção orçamentária.
Com essas novas exigências da Lei de Diretrizes e Bases, construída pelo Governo Federal, a Universidade conseguiu consolidar projetos de pesquisa e de extensão com a expansão dos programas de bolsa de pós-graduação da CAPES e do programa institucional de bolsas de iniciação científica. Além disso, houve a criação dos cursos de Engenharia de Computação (22/12/1998), Química (22/3/1999), Artes Visuais – Licenciatura (28/07/1999), e do Mestrado em Urbanismo (01/01/1997). Um conjunto de iniciativas, como a realização de seminários sobre currículo, a criação da revista Série Acadêmica e do Fórum de Coordenações de Cursos de Graduação, permitiu a construção de um programa de avaliação, desenvolvimento curricular e planejamento pedagógico.
Outros movimentos importantes também foram conquistados nesse período, como a aproximação com a classe empresarial e o envolvimento acadêmico através de intercâmbio, integração ou parcerias. Entre elas a estabelecida com a Universidade vizinha ao Campus I, a Unicamp, cujos campi foram ligados por uma avenida, construída com a ajuda da Prefeitura de Campinas, a Avenida dos Estudantes, que ampliou a interlocução das Instituições, com a promoção de eventos culturais e alunos que frequentavam as duas comunidades acadêmicas.
A partir da segunda metade da década de 1990, a PUC-Campinas precisou transformar e rever a própria estrutura organizacional da Universidade, suas competências e prioridades, criando a Coordenadoria Geral de Graduação e a Coordenadoria Geral de Extensão, baseada nas exigências da LDB. Para tanto, a Instituição apresenta à sociedade um projeto educacional para adequar os cursos, colocando-os em constante relação e integração com suas áreas afins, no sentido de produzir conhecimento de que o mercado de trabalho e as novas ocupações precisam.
2000
Por: Gabriel de Barros de Amstalden
Lucas Diego Ganzella da Silva
A expectativa pelo início de um novo milênio trouxe consigo um espírito de mudança, diante dos novos tempos, com o avanço tecnológico. Era o momento oportuno para um salto de qualidade na infraestrutura da Universidade, que, através de grandes investimentos em obras de ampliação e modernização dos prédios, propiciou à comunidade acadêmica maior conforto e qualidade nos Campi I e II.
Melhorias como a informatização das bibliotecas, construção de novos ambientes de convivência, anfiteatros e laboratórios fizeram com que a Universidade aumentasse o seu grau de excelência na formação dos alunos e nos atendimentos ao público, sobretudo através do Hospital Universitário. Para isso, entre os anos de 2001 e 2005, foram investidos cerca de R$ 50 milhões de reais em obras de infraestrutura e melhorias técnicas em seus Campi.
As mudanças no modelo de gestão também tiveram impacto direto na continuidade dos trabalhos da Universidade. Com uma nova estrutura organizacional, estabelecida no Estatuto, aprovado pelo Conselho Universitário em dezembro de 2001, “foram criadas as Pró-Reitorias de Graduação; de Pesquisa e Pós-Graduação: de Extensão e Assuntos Comunitários; e de Administração.”.
Todo esse investimento em qualidade e infraestrutura gera resultados na produção acadêmica, tendo grande aumento nos projetos de Iniciação Científica, com o número de bolsas oferecidas pela PUC-Campinas e pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) do CNPq, dobrando entre os anos de 2002 e 2005.
O Plano Estratégico, elaborado para o período de 2003 a 2010, resultou em uma integração entre ensino, pesquisa e extensão, fortalecendo ainda mais a identidade da PUC-Campinas enquanto universidade e sedimentando a nova cultura institucional. Em meio a esse processo, o Pe. Wilson Denadai assume o cargo de reitor da Universidade em 2006.
Em 2009, foi finalizado e entregue o complexo do Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CCHSA) no Campus I. Também foram realizadas ampliações e reformas do complexo de Pronto-Socorro do Hospital e Maternidade Celso Pierro, sendo inaugurado pelo então Ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Essas obras foram frutos de uma parceria junto ao Ministério da Saúde, sendo investidos na obra R$ 5,5 milhões, dos quais R$ 3,8 milhões são do Ministério da Saúde e R$ 1,7 milhão a contrapartida da Sociedade Campineira de Educação e Instrução (SCEI).
A Universidade contava até o fim desta década com cerca de 17.070 alunos, 2.300 alunos beneficiados com programas de bolsas de estudo, 845 professores, 290 professores em período integral, 1.500 colaboradores, 42 cursos de graduação, 21 cursos de pós-graduação lato sensu, 4 programas de pós-graduação stricto sensu e 235 cursos de extensão aprovados.
Os constantes esforços da Universidade neste período lhe garantiram prestígio no cenário nacional, recebendo o Prêmio Marcas de Sucesso, da Rede Anhanguera de Comunicação (RAC), nas categorias de graduação e pós-graduação; e também o 27º Prêmio Nacional de Monografias e Projetos Experimentais da Associação Brasileira de Relações Públicas. Por dois anos seguidos (2008 e 2009), foi eleita como uma das melhores universidades do país, pela revista da Editora Abril, Guia do Estudante. Também foi considerada pela mesma revista junto do Banco Real na 5ª edição do Prêmio Melhores Universidades, como a melhor Universidade Privada do Brasil na categoria saúde.
O caminho traçado pela Instituição nessa década foi carregado de possibilidades e desafios, mostrando a contínua capacidade da Universidade de se adaptar e evoluir, sendo reconhecida no país pela sua tradição e excelência, evidenciada através dos prêmios conquistados por seus docentes e alunos.
2010
Por: Alessandra da Silva Gonçalves
Mayla Liberato Demanboro
A década de 2010 se inicia com a mudança na administração da Universidade, tendo a professora Angela de Mendonça Engelbrecht assumido o cargo de reitora. Esses anos também ficaram marcados por uma grande crise econômica mundial, impactando vários setores, inclusive o setor do ensino superior brasileiro. Ao contrário da década passada, quando houve um crescimento significativo de vagas nas universidades públicas e privadas, esta enfrentaria o grande desafio de ajustar a demanda e a oferta para preenchimento de vagas e da taxa de sucesso. Dentro desse contexto, a Universidade adota mecanismos para captação de alunos, como as políticas de expansão de vagas junto ao governo federal, a concessão de bolsas de estudo e a facilidade de crédito para os estudantes (Prouni e Fies).
E, mesmo diante de tantos desafios, a Universidade continua dando credibilidade para seus sonhos, fazendo investimentos para a melhoria, bem-estar e qualidade de seus serviços. Em 2015, o Campus I inicia a construção de um novo prédio, alocado ao Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CCHSA), onde recebe o curso de Direito, que antes tinha as aulas ministradas no Campus Central, o imponente edifício do final do século XIX, nominado antigo Solar do Barão de Itapura. Em 2016, a sede da Reitoria, a Mantenedora, o Complexo Esportivo, a sede do Sistema de Bibliotecas e Informação, também ganham uma nova estrutura.
Em 2017, iniciam-se as obras de restauração do Prédio Central, o suntuoso edifício Solar do Barão de Itapura. Por anos, a PUC-Campinas planejava desenvolver uma nova história para o Solar, a fim de se preservarem a sustentabilidade, responsabilidade e dignidade cultural. Indo ao encontro dessas premissas, como Instituição, a PUC-Campinas, preocupada com a salvaguarda e identidade cultural da cidade de Campinas, lança o desafio a todos de se comprometerem em resguardar a história para as futuras gerações e se coloca, ainda, como Instituição de Ensino Superior preocupada com a dignidade cultural. O restauro e a adequação do seu espaço físico às atividades de arte, cultura e lazer deixarão, ainda, o espaço em harmonia com as novas tendências de requalificação do centro de Campinas, sendo um projeto indutor da valorização do entorno e do conjunto de imóveis inseridos ao seu redor.
2020
Por: Vinícios Leite de Campos
O momento atual da década é caracterizado pela reflexão e mudanças de hábitos no mundo, geradas com a pandemia do novo coronavírus, que afetou diretamente a saúde, a economia e a política pública ou institucional das empresas e entidades. Como Instituição atrelada à SCEI, associação mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e do Hospital e Maternidade Celso Pierro, a PUC-Campinas respeita e se compromete com a sociedade, seguindo valores como: respeito à orientação Católica, postura ética, responsabilidade social, sustentabilidade, profissionalismo, respeito às diferenças, transparência, beneficência e justiça.
No ano em que completa 80 anos de tradição, história, marcas importantes e contribuição para a sociedade, a Instituição, preocupada com a comunidade acadêmica, a todo momento, segue todos os protocolos de saúde, divulgando as medidas adotadas através do Portal da Universidade e em outros canais de comunicação. Para tanto, tem oferecido máscaras e álcool em gel para os funcionários, assim como adotado o distanciamento social, revezamento de funcionários no setor, com home office para os que podem realizar as atividades sem comprometer o trabalho do setor. Para os alunos, as medidas adotadas foram de desenvolver atividades remotas, acompanhando as aulas por meio das plataformas digitais, com destaque para o novo aplicativo dos Alunos da PUC-Campinas, disponível para Android e iOS. A modalidade presencial ficou restrita para os alunos de último ano dos cursos da área da saúde.
Este momento desafiador vivenciado pela sociedade, também o é para a PUC-Campinas, procurando se adaptar ao novo normal e contribuir acadêmica e socialmente. Assim, por meio das plataformas digitais, tem disponibilizado acesso aos serviços de bibliotecas, produtos e manuseio de tecnologias, além de realizar diversas apresentações artísticas e produção de conteúdo. Entre elas, destaca-se o podcast da Instituição, Olhar Contemporâneo, que traz professores e especialistas de diversas áreas para discutir temas atuais, como os efeitos do isolamento social para as crianças.
A Universidade também tem se empenhado para formar parcerias para ajudar pessoas nesta crise mundial, fortemente vivida no Brasil. Entre elas, destaca-se a com o Santander, em que a Instituição conseguiu construir um programa de doação de chips de celular para estudantes de baixa renda, com direito a um pacote de dados com seis meses de funcionamento, chamadas de voz ilimitadas para qualquer DDD, fixo ou móvel, 5GB de Internet em alta velocidade por mês e navegação em alguns aplicativos.
Além disso, a Instituição tem desenvolvido e apoiado ações sociais, como a campanha de arrecadação de alimentos e produtos de limpeza, em parceria com a Arquidiocese em empresas, para distribuição à comunidade carente. Também produziu vídeo para auxiliar pais e cuidadores de crianças no momento de pandemia e tem contribuído com projetos, como o Projeto Agbara, que trabalha com a ajuda na sustentação dos negócios de 80 empreendedoras negras e indígenas da Região Metropolitana de Campinas (RMC) durante a pandemia.
O compromisso institucional da Pontifícia Universidade Católica de Campinas com a comunidade, segue também através de serviços como o de Assistência Jurídica para pessoas com renda familiar de até três salários mínimos, atendendo, atendendo de forma totalmente gratuita, casos na área do direito civil, especialmente envolvendo direito de família e das sucessões, direitos reais, código de defesa do consumidor e, de modo geral, direitos humanos. Para não interromper as atividades, o setor, que antes da pandemia atendia pessoalmente, tem neste momento trabalhado através de plataformas, como WhatsApp e Teams.
O Reitor da PUC-Campinas, Prof. Dr. Germano Rigacci Júnior, ressalta a importância da prontidão das ações, que envolveram o cuidado físico e psicológico daqueles que orbitam a Universidade. “A comunidade acadêmica da PUC-Campinas deu uma resposta imediata à crise provocada pela pandemia da covid-19, mostrando iniciativa, criatividade e uma imensa capacidade de adaptação. Nosso compromisso de produzir e difundir conhecimento foi mantido, sempre tendo a vida e a segurança de todos colocadas em primeiro lugar. E a solidariedade marcou nossas atividades todo o tempo em que a pandemia alterou nosso cotidiano. Cumprimos muitas e distintas ações de socorro, de apoio, de ajuda ao público universitário e dele para a sociedade. ”